SALVADOR – Ouvidoria promove encontro sobre o aumento dos casos de feminicídio no Estado
O caso da pedagoga Helem Moreira, morta no início de junho, motivou a realização do encontro
O aumento dos casos de femínicidio na Bahia e a necessidade da formação de uma rede de proteção à mulher foram temas de um encontro realizado na manhã desta quarta-feira, 21, na sede da Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA, no bairro do Canela.
O caso emblemático que motivou a realização do encontro foi o da pedagoga Helem Moreira que foi morta no dia 9 de junho, na Ilha de Vera Cruz. Um outro caso foi registrado no dia 16 de junho, em Itinga, quando a baiana de acarajé Jussara de Oliveira e seus dois filhos foram mortos. O suspeito é o companheiro da baiana, o carpinteiro Alexandre Rodrigues Santos, que ainda não foi encontrado pela polícia.
Mediado pela ouvidora-geral , Vilma Reis, o evento reuniu estudantes, professores, pesquisadores, jornalistas e representantes de diversas instituições ligadas aos direitos das mulheres. “Não aguentamos mais enterrar as mulheres. Um rastro de morte está se alastrando por todo o nosso estado e, muitas vezes, a mulher é colocada como culpada. A discussão precisa sair do campo da polícia e entrar no campo da política social. Quando uma mulher é assassinada, uma família inteira vai embora. A partir deste encontro, a gente vai ter novas tarefas nesta luta e precisamos juntar nossas forçar e mobilizar todos os cantos desta Bahia”, observou a ouvidora-geral, Vilma Reis.
A união de forças para a formação da rede de proteção às mulheres foi a grande proposta do encontro desta manhã e foi apoiada por todos os presentes. Entre as sugestões sinalizadas estavam os encontros mensais, o compartilhamento de arquivos relacionados à violência contra a mulher, a cobrança pelo andamento dos processos, o monitoramento, a ampliação e o fortalecimento de políticas públicas, a discussão do tema em escolas e a conscientização da mídia sobre a abordagem que vem sendo realizada. “Quando a gente sente na pele, a gente passa a entender melhor. Eu fui vítima de violência doméstica. Já morreram várias Helens, Jussaras e Marias, mas, hoje, estamos lutando pelos nossos direitos. Podem contar com a gente para formar esta rede de proteção”, destacou a presidenta do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos das Mulheres de Lauro de Freitas, Cleide Rezende.
“Devemos focar a nossa luta na prevenção e na garantia da efetivação dos serviços, como as delegacias”, destacou a integrante da Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, Maria Helena Silva. “Estamos recebendo, em Lauro de Freitas, demandas de outras cidades e isso só vem crescendo. Esta mazela está atingindo todas as classes sociais e uma das consequências desta violência é que as mulheres estão sofrendo, cada vez mais, com transtornos mentais”, revelou Sulle Nascimento, do Centro de Referência Lélia Gonzalez – CRLG, localizado em Lauro de Freitas.
O PAPEL DA DEFENSORIA PÚBLICA
Durante o encontro, a defensora pública Roberta Braga, que atua no Núcleo de Defesa da Mulher – Nudem da DPE/BA, vinculado à Especializada de Proteção aos Direitos Humanos, destacou a atuação da instituição nestes casos. “Enquanto defensores públicos, temos que preservar a imagem da mulher como vítima da violência. Ela morreu em decorrência da violência e a culpa não é dela. Independente da parte que defende, o advogado precisa ter compromisso com a justiça. Se reage ou se morre, a mulher sai do seu papel social. Precisamos desconstruir este estigma e acabar com esse preconceito”, destacou.
Além das representantes citadas, o evento contou com a participação de integrantes da Secretaria de Política das Mulheres; Instituto Odara; Universidade Federal da Bahia – Ufba, Universidade do Estado da Bahia – Uneb, Rede de Mulheres Negras; Rede Sapatá; Coletivo Luiza Bairros; Coletivo de Mulheres do Calafete – CMC; Sindicato das Trabalhadoras(es) Domésticas(os) do Estado da Bahia – Sindoméstico.