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Seminário da Ouvidoria debate enfrentamento à discriminação social e cenário do atendimento de pessoas obesas na rede de saúde pública

Por Júlio Reis - DRT/BA 3352

O acolhimento, a inclusão, a assistência e as políticas públicas de saúde para as pessoas que sofrem de obesidade foi tema do I Seminário “Enfrentamento da Obesidade: saúde, justiça e dignidade” promovido virtualmente pela Ouvidoria Cidadã da Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE/BA) na tarde desta quarta-feira, 20.

“O seminário veio para comemorar o dia nacional de prevenção e combate à obesidade, fazer refletir o acesso e os serviços de saúde pública para pessoas obesas, as problemáticas psicológicas e emocionais que entram em jogo, a empatia social em torno do tema, entre outros aspectos”, sintetizou a ouvidora-geral da DPE/BA, Sirlene Assis.

Durante o encontro foram debatidas as diversas questões que estão ligadas à doença, assim como comportamentos discriminatórios contra as pessoas obesas e os impactos destas condutas no processo de tratamento deste grupo que, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE), registrou um aumento considerável. Segundo comparação histórica do levantamento, o número de obesos acima de 20 anos no Brasil mais que dobrou no período entre 2003 e 2019, saltando de 12,2% para 26,8% da população.

Convidado do Seminário, o psicólogo Jorge Cordeiro, que atua no tratamento de pessoas obesas, destacou o caráter multifatorial com interação de fatores genéticos, metabólicos, socioeconômicos, comportamentais, psicológicos e culturais, que acarretam na obesidade e a necessidade, portanto, de um tratamento transdisciplinar.

“As promoções de saúde referentes à prevenção e combate à obesidade convergem para a garantia dos direitos humanos. É função do Estado garantir e proteger o indivíduo por meio de políticas públicas e ações que assegurem sua saúde. Os planos de saúde, por exemplo, estão só interessados em trabalhar com as doenças provocadas pelo adoecimento da obesidade e aí não há enfoque para trabalhar o tratamento desta pessoa em diversas frentes, para mudanças efetivas. Nesse sentido, a questão psicológica é extremamente importante”, apontou Jorge Cordeiro.

Relatando sua experiência pessoal como criança e jovem obesa, a defensora pública Jamara Saldanha ressaltou que a promoção à saúde é um direito social e destacou as contradições da sociedade brasileira.

“O índice de pessoas em situação de fome cresceu no país e o de pessoas com obesidade também cresceu. Nosso país é um país de paradoxos. Precisamos garantir políticas públicas que atuem em ambas as questões. E quando falamos em direito à saúde, não é apenas no tratamento, da pessoa já cometida de alguma comorbidade, é também a promoção de meios de prevenção para que pessoas não adoeçam”, salientou a defensora pública.

Já a presidente da Sociedade Baiana de Infectologia e professora da faculdade de Medicina da UFBA, Miralba Freire Silva, destacou questões relativas ao atendimento de pessoas obesas que não encontram na rede hospitalar a estrutura necessária para diversas situações que possam enfrentar.

“São questões simples, como ausência de equipamentos adaptados para aferir pressão, cadeiras de rodas não adaptadas. Isso para atender um público significativo que buscam estes serviços. São coisas muito simples que interferem no bom atendimento da pessoa com obesidade. E desta falta de acolhimento é que se gera a rejeição para seguir tratamentos no serviço de saúde”, observou Miralba Silva.

Também marcaram presença no seminário a subdefensora-geral, Firmiane Venâncio, o defensor público e presidente da Associação das Defensoras e Defensores Públicos da Bahia, Igor Santos; a coordenadora do Coletivo de Pessoas com Obesidade do Estado da Bahia, Nélia Almeida; a assistente social e ex-ouvidora-geral da DPE/BA, Tânia Palma, além de diversas representantes de movimentos sociais e coletivos ligados ao tema.