Ouvidoria Cidadã - Defensoria Pública da Bahia

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Última roda de conversa da Ouvidoria Cidadã do ano debate lutas e desafios profissionais de gestores negros

Com objetivo de exercer uma escuta ativa  e estreitar o relacionamento com sociedade civil, a última Roda de Conversa do ano promovida pela Ouvidoria Cidadã da Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA debateu o tema “Lutas e desafios dos gestores dos empreendimentos negros” a fim de discutir percalços e conquistas que a população negra vive no âmbito profissional.

O encontro virtual contou com a presença da defensora pública Analeide Accioly; a empresária e criadora da marca Tons da Terra Alice Sales; a proprietária da Wakanda Educação Empreendedora e coordenadora de captação de recursos da UNIRAAM Karine Oliveira; do cantor, compositor e mestre de capoeira Tonho Matéria e com a participação da artista plástica Kimbumdo. O evento foi mediado pela ouvidora-geral, Sirlene Assis, que abriu a roda de conversa fazendo saudações a ancestralidade.

“É preciso, antes de tudo, saudar cada negra e negro trazido de forma escravizada do continente africano, porque eles foram e são reis e rainhas. São tantos Zumbi dos Palmares na história do Brasil, tantas Dandaras, além de tantos outros que passaram e deixaram seu legado. Nessa última roda de conversa, estamos muito felizes de trazer tantos nomes, tantas pessoas negras que fazem a sua história”, iniciou.

Na sequência, a defensora pública Analeide Accioly pontuou que o estudo é a primeira etapa para que a população negra consiga quebrar barreiras. De acordo com ela, a luta por uma educação de qualidade deve ser constante, pois só a educação é capaz de dar novos rumos e um futuro diferente para todas as pessoas, sobretudo a população negra, que durante muitos anos teve esse direito negado. “Incentivar o estudo, o conhecimento, a cultura e conhecer a sua história é o primeiro passo para uma revolução”, afirmou.

Ainda de acordo com a defensora “infelizmente nós temos jovens negros que param de estudar pois precisam trabalhar e não conseguem galgar maiores espaços, ainda mais quando se tem um sistema que também não colabora. Nós precisamos incentivar e dar oportunidades para que esses jovens ocupem espaços, lugares de fala e que também sejam protagonistas. Nós não temos apenas que nos sentirmos representadas, mas precisamos também ser representantes, pois assim conseguiremos resistir as lutas e aos desafios na carreira ou em qualquer outra situação”, finalizou.

Reinvenção e empreendedorismo

Trazendo a força da juventude negra, a proprietária da Wakanda Educação Empreendedora e coordenadora de captação de recursos da UNIRAAM Karine Oliveira trouxe à tona um pouco da sua trajetória para conseguir se tornar empresária. Explicou o objetivo da sua empresa e narrou os desafios de lidar com as dificuldades encontradas por ser mulher preta, moradora da favela e lésbica.

“A Wakanda Educação Empreendedora é um negócio de impacto social e economia solidária. Buscamos um jeito diferente de não só gerar renda, mas de realmente se preocupar com o outro. Vimos que era possível dar aula de um jeito diferente e incentivar outras pessoas a empreenderem com referência locais, de gente como a gente. Como podemos falar de empreendedorismo e não citar as Ganhadeiras de Itapuã? Então essa foi a minha ideia, ensinar a pessoas que elas também podem inovar e empreender, porque muitas delas acreditam que seu negócio não é um empreendedorismo”, explicou.

Karine enfatizou ainda que “temos que desmitificar a ideia de que ‘negócio’ somente poder ser feito por homem branco de terno e da bolsa de valores. Existem potências fora desse padrão que são boas também. Claro que se você não faz parte dele, sempre vão te desqualificar e não vão levar seu negócio a sério. Irão dizer que não é empreendedorismo assim como já me disseram. Mas é aí que você precisa ser mais forte que as críticas negativas e não desistir. Nós, população negra, sabemos muito de muita coisa e todos precisam enxergar isso. Há sempre mil maneiras de reinventar”, finalizou.

No encontro foram abordados ainda a trajetória do artista Tonho Matéria como cantor, compositor e mestre de capoeira e como sua arte influenciou e influência positivamente a vida de tantos jovens negros. Já a empresária e criadora da marca Tons da Terra, Alice Sales, abordou a mudança repentina que precisou fazer na profissão tendo que se reinventar.

“No começo é sempre difícil, principalmente quando temos uma formação especifica. Por problemas de saúde, tive que parar de exercer a profissão de bióloga e vi a necessidade que tinha de me procurar outras formas de trabalhar. Aproveitei meus gostos por tecido e fiz disso um negócio. Um das principais dicas para nós que somos empreendedores negros, é sermos os primeiros a acreditar e dar valor aos nossos projetos, porque se a gente acredita, por mais que não levem a sério ou te achem incapaz de gerir algo, vamos continuar no foco porque teremos a convicção da qualidade do nosso trabalho. Pra mim”, explicou a empresária.

Ao final, a roda de conversa foi aberta para participação de todos participantes, que puderem comentar, fazer sugestões e debater mais sobre o assunto.